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A Parceria Brasil-China em Tempos de Inovação e Descarbonização

A Parceria Brasil-China em Tempos de Inovação e Descarbonização

《Sinóptica 提纲》杂志

2025年12月13日
Tulio Cariello

O rápido crescimento da economia chinesa nas últimas quatro décadas transformou profundamente a dinâmica do comércio e dos investimentos internacionais, inaugurando uma fase de grande complementaridade entre o Brasil e a China. A partir dos anos 2000, os fluxos de comércio e investimento entre os dois países cresceram expressivamente, transformando a China no principal parceiro comercial do Brasil e consolidando o país asiático como um dos maiores investidores estrangeiros em território brasileiro.

Essa dinâmica bilateral tem se expandido muito além do comércio de produtos básicos. Os investimentos chineses têm ganhado relevância em setores estratégicos ligados à transição energética, infraestrutura, manufatura e inovação tecnológica. Ao mesmo tempo, o intercâmbio comercial, centrado em cadeias de valor que envolvem agricultura, energia e mineração, demonstra que mesmo os setores considerados “primários” são, na realidade, sustentados por tecnologias de ponta e a busca por práticas cada vez mais sustentáveis.

Entre 2007 e 2024, as empresas chinesas investiram US$77,5 bilhões no Brasil, com capital concentrado no setor de eletricidade e petróleo, além de diversos projetos em outros segmentos, sobretudo na indústria manufatureira, em Tecnologia da Informação e no setor bancário. Apenas em 2024, os investimentos chineses no país atingiram US$4,18 bilhões – quase o dobro do valor registrado em 2023. Com esse desempenho, o Brasil tornou-se o terceiro maior receptor mundial de investimentos chineses naquele ano, atrás apenas do Reino Unido e da Hungria, e o principal destino entre as economias emergentes.

Do ponto vista do perfil dos empreendimentos, desde o início dos anos 2020 as empresas chinesas têm priorizado projetos ligados à sustentabilidade, descarbonização e manufatura avançada em território nacional, em consonância com as metas de reindustrialização do Brasil e com a agenda global de transição energética. Esses investimentos representaram 72% do número total de projetos chineses no Brasil em 2023 e 69% em 2024 – os maiores percentuais registrados na série histórica. Empresas como State Grid, China Three Gorges, SPIC e CGN ampliaram significativamente sua atuação, consolidando o Brasil como um dos destinos prioritários da transição energética chinesa no exterior. Essas empresas têm atuado em diversas frentes, incluindo em projetos de geração e transmissão de eletricidade, com a compra de usinas hidrelétricas e a execução de novos projetos de energia solar e eólica em diversos estados brasileiros – em especial no Nordeste do país. Além disso, empresas chinesas também estiveram presentes em marcos importantes do setor de transmissão de eletricidade no Brasil, com linhas que cruzam o país, do Pará ao estado de São Paulo, passando por 13 estados. Hoje, somente a State Grid conta com 16 mil quilômetros de linhas em operação no Brasil – o equivalente a cerca de 10% de toda a rede de alta tensão nacional, segundo informações da própria empresa.

O crescimento dos investimentos chineses na indústria manufatureira é outro fenômeno relevante. O setor registrou o recorde de oito projetos em 2024, totalizando US$637 milhões, e representando um elo direto com a política “Nova Indústria Brasil” (NIB), voltada para a reindustrialização sustentável e tecnológica. Essas iniciativas envolvem desde fábricas de veículos eletrificados – movimento liderado por BYD e GWM – até a produção de equipamentos elétricos e turbinas eólicas, promovendo empregos qualificados, modernização industrial e oportunidades de inserção do Brasil em cadeias globais de valor voltadas à descarbonização.

Além disso, a área de mineração voltou a chamar atenção de investidores chineses no Brasil, sobretudo a partir de 2024. A expansão da presença chinesa no setor ocorre em escala global, tendo como pano de fundo o aumento da demanda por minerais fundamentais para a indústria de transição energética e alta tecnologia. Nesse contexto, a China tem investido em todos os continentes, com um interesse especial pela América do Sul. Há investimentos e projetos de cooperação no segmento de lítio na Argentina, no Chile e na Bolívia, na região conhecida como "Triângulo do Lítio", onde se encontram as maiores reservas do mineral em todo o mundo, enquanto o Peru desponta como um importante destino de investimentos no setor de cobre. O Brasil, com portfólio mais diversificado, também está na mira dos planos de expansão das empresas chinesas. Somente nos últimos dois anos, a China Nonferrous adquiriu ativos de estanho e nióbio da Mineração Taboca, no estado do Amazonas, e a MMG, subsidiária da China Minmetals, comprou da Anglo American minas de níquel em Goiás.

A convergência entre os objetivos brasileiros e chineses é clara. Enquanto o Brasil busca reindustrialização com base em inovação e sustentabilidade, a China procura expandir globalmente suas tecnologias limpas e sua presença em infraestruturas energéticas. Essa complementaridade reforça o papel do Brasil como um dos destinos estratégicos dos investimentos chineses no exterior.

No comércio bilateral, a China se consolidou como nosso principal cliente e fornecedor. A participação do país asiático nas exportações brasileiras cresceu 26 pontos percentuais entre 2000 e 2024, chegando a 28% no último ano, com vendas que atingiram US$94,4 bilhões. No mesmo período, a participação da China nas importações brasileiras aumentou 22 pontos percentuais, somando US$63,3 bilhões em 2024.

Além disso, o comércio com a China tem gerado superávits expressivos para o Brasil. Nos últimos dez anos, o gigante asiático foi responsável por um saldo acumulado de US$276 bilhões, o equivalente a 51% do superávit total do país com o mundo no período. Na mão contrária, o comércio com os Estados Unidos e a União Europeia acumulou déficit de US$224 bilhões para o Brasil. Esse resultado reforça o papel da China como um importante vetor de resiliência econômica em momentos de volatilidade global, reduzindo a vulnerabilidade externa do Brasil e elevando as reservas internacionais do país.

Por outro lado, é amplamente conhecido que a pauta exportadora brasileira para a China é excessivamente concentrada em soja, petróleo e minério de ferro. Mas pouco se comenta que esses produtos, classificados como “primários”, dependem fortemente de inovação tecnológica. Nesse sentido, a China exerce papel estratégico como catalisador da inovação no Brasil. A demanda chinesa impulsionou investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento no agronegócio e na indústria extrativa, resultando em avanços tecnológicos genuinamente brasileiros, como a “tropicalização” da soja, o desenvolvimento do briquete de minério de ferro pela Vale e a exploração de petróleo em águas profundas liderada pela Petrobras – iniciativas que aumentam a produtividade e contribuem para adoção de práticas sustentáveis, a redução dos impactos ambientais e a transição energética.

Também é notável que o comércio com a China traz uma importante contribuição para a sociedade brasileira. Atualmente, mais de 40 mil empresas no Brasil comercializam com a China, criando e mantendo cerca de 7 milhões de empregos no país. Além disso, há participação crescente de micro, pequenas e médias empresas no comércio bilateral, bem como uma diversidade cada vez maior de produtos exportados para o mercado chinês. Em 2024, o Brasil exportou 2.589 categorias de produtos para a China — quase o quádruplo do número registrado em 1997. Do lado das importações, o número de categorias de produtos mais que dobrou no mesmo período, alcançando 6.914.

A relação entre comércio, investimento e desenvolvimento sustentável tornou-se o núcleo da parceria sino-brasileira contemporânea. Os investimentos chineses em energia limpa, veículos elétricos e manufatura verde dialogam com a crescente demanda chinesa por produtos agrícolas e minerais de baixo carbono oriundos do Brasil.

Essa sinergia cria um círculo virtuoso de desenvolvimento sustentável, no qual os investimentos produtivos fortalecem as exportações e, por sua vez, o comércio cria oportunidades para o investimento em infraestrutura, inovação e cadeias produtivas integradas. Além disso, o avanço da cooperação bilateral em inovação tecnológica, transição energética e economia verde posiciona Brasil e China como parceiros estratégicos na governança global da sustentabilidade, ampliando a relevância política e econômica de ambos no cenário internacional.

Por outro lado, apesar do avanço e da clara convergência de interesses, a cooperação entre Brasil e China em transição energética e sustentabilidade ainda enfrenta alguns obstáculos. Diferenças regulatórias e institucionais, somadas à burocracia e à instabilidade de marcos políticos e ambientais, podem dificultar a execução de projetos de longo prazo. Também pesam desafios ligados à transferência de tecnologia, à formação de mão de obra qualificada e à criação de mecanismos de financiamento verde que deem escala aos investimentos. Superar essas barreiras exigirá maior coordenação entre governos e empresas, além de instrumentos bilaterais mais sólidos para transformar o potencial complementar em resultados concretos e duradouros.

Este artigo é baseado nos estudos Investimentos Chineses no Brasil – 2024: Reindustrialização e Transição Energética (Tulio Cariello) e Análise Socioeconômica do Comércio Brasil-China: Emprego, Renda, Gênero e Raça nas Empresas que Comercializam com a China (Camila Amigo, Mariana Quintanilha e Tulio Cariello), ambos publicados em setembro de 2025.

Fotografia: Pexels

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Carlos Renato Ungaretti
Carlos Ungaretti

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