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Energia Sino-Brasileira para a Cooperação e Sustentabilidade

Energia Sino-Brasileira para a Cooperação e Sustentabilidade

Agendas da Transição Energética Global e Oportunidades

《Sinóptica 提纲》杂志

2025年6月24日
Carlos Renato Ungaretti

Introdução

Brasil e China completaram recentemente cinquenta anos de relações bilaterais. O que se iniciou ainda em 1974 foi, com o tempo, sendo alicerçado em pilares como comércio, diplomacia, inovação, tecnologia, ganhando ainda mais musculatura com parcerias nos setores de energia, meio ambiente e sustentabilidade. A importância atribuída a estes setores na agenda bilateral é percebida na carta de cooperação assinada pelos países no âmbito da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (COSBAN) em 2022, bem como na Declaração de Mudança do Clima assinada em 2023, durante a visita do Presidente Lula à China.

Energia e sustentabilidade são pautas em que os dois países vislumbram o “oceano azul”, conceito estratégico desenvolvido por W. Chan Kim e Renée Mauborgne no livro “A Estratégia do Oceano Azul”, que descreve a criação de um novo espaço de mercado inexplorado, onde a concorrência é irrelevante. [1] Considerando esse mar de oportunidades, bem como as consequências decorrentes deste desenvolvimento, o objetivo deste artigo consiste em avaliar o panorama das relações Brasil-China nas esferas de energia e sustentabilidade. Mais especificamente, procura-se identificar potenciais oportunidades de cooperação em energias renováveis, tecnologias de baixo carbono e práticas sustentáveis em distintos segmentos produtivos.

Brasil e China nas áreas de energia e sustentabilidade

A agenda da Transição Energética é estratégica para Brasil e China, com ambos os países cultivando interesses e esforços convergentes. Apesar de ser o maior emissor de Gases do Efeito Estufa (GEE), a China atualmente tem se notabilizado como protagonista na transição energética global, liderando investimentos em tecnologias limpas e eficiência energética, refletindo desafios significativos em seus esforços para equilibrar crescimento econômico com sustentabilidade ambiental. O Brasil, por sua vez, é um país com inúmeras vantagens comparativas e amplos recursos renováveis, mas que também encontra barreiras para transformá-las em vantagens competitivas.

A China é líder global em capacidade instalada de energia solar e eólica, enquanto o Brasil é referência mundial em energia hidrelétrica, que representa cerca de 60% de sua matriz elétrica. Em 2023, o país asiático tinha uma capacidade instalada de 1.450 GigaWatts (GW) em energia renovável, pouco menos de 40% do total global, enquanto o Brasil contava com mais de 170 GW de capacidade renovável instalada. [2]

Em razão de seus investimentos em energias renováveis, que apenas em 2023 ultrapassaram a marca dos US$ 676 bilhões, montante que equivale à soma de Estados Unidos e União Europeia, a China tornou-se centro global de produção para tecnologias de baixo carbono, como painéis solares e turbinas eólicas. A China produziu mais painéis solares em 2023 do que a construção total de qualquer outro país no mundo. Segundo documento divulgado pela Administração Nacional de Energia (NEA, na sigla em inglês) da China, o país aumentou sua produção solar para 216,9 GW em 2023, batendo seu recorde anterior de 87,4 GW alcançado em 2022.

Além disso, cabe destacar a produção de veículos elétricos. Em 2021 aproximadamente 50% das baterias do mundo.) foram produzidas na China, enquanto em 2023 essa participação cresceu para mais de 75%. O domínio das cadeias globais de produção de tecnologias verdes por parte da China também inclui a produção de minerais críticos e o processamento de materiais essenciais para manufatura de baterias e veículos elétricos. A China é há muito tempo líder no processamento de lítio e cobalto, com uma participação de 72% e 68%, respectivamente, no seu fornecimento global em 2022.

No caso do Brasil, identificou-se nos últimos anos a notável expansão no uso de fontes eólica e solar, particularmente em regiões como o Nordeste. Atualmente, ambas as fontes representam mais de 20% da geração de eletricidade no Brasil, contribuindo para tornar o sistema de energia do país menos dependente da geração de grandes hidrelétricas e mais diversificado e sustentável.

O país também exerce papel relevante nas cadeias de produção ligadas à transição energética, ocupando uma posição de protagonismo na produção de nióbio, de onde vem aproximadamente 90% da produção global, e onde estão cerca de 95% das reservas conhecidas. Além disso, salientam-se as reservas de níquel, lítio, grafite e elementos de terras raras, igualmente essenciais para manufatura de tecnologias de baixo carbono, incluindo painéis solares, aerogeradores e sistemas de transmissão e armazenamento de energia. [3]

A cooperação sino-brasileira em energia e sustentabilidade

O protagonismo produtivo e tecnológico da China na manufatura e exportação de tecnologias energéticas tem favorecido a difusão de investimentos em energias renováveis no exterior, especialmente em países do Sul Global, impactando a geopolítica da transição energética. O “esverdeamento” da Rota da Seda é uma iniciativa chave que demonstra o compromisso e o interesse da China em promover investimentos sustentáveis em diversas regiões, contribuindo para a disseminação de projetos em energias renováveis e tecnologias verdes.

Ponto relevante no eixo de mútua parceria bilateral sino-brasileira, uma vez que a China tem se consolidado como um ator estratégico global na transição energética, atuando como provedora de equipamentos, tecnologias e financiamento para projetos sustentáveis em diversos países, incluindo o Brasil. Com sua vasta experiência em energia renovável, especialmente em setores como energia solar, eólica e hidrogênio verde, a China oferece soluções tecnológicas avançadas e investimentos robustos que podem acelerar a descarbonização e a modernização da matriz energética brasileira.

Essa relação bilateral apresenta oportunidades de benefícios mútuos: enquanto o Brasil se beneficia do acesso a tecnologias de ponta e financiamento a custos competitivos, a China amplia sua influência e parcerias em um mercado com enorme potencial para energias renováveis, dada a abundância de recursos naturais e a crescente demanda por sustentabilidade no país. Essa sinergia pode fortalecer a cooperação entre as duas nações, impulsionando projetos inovadores e contribuindo para os objetivos globais de redução de emissões e transição para uma economia de baixo carbono.

Cabe observar que a transição energética não é apenas uma questão tecnológica, mas também financeira. Nos últimos anos, identificou-se que a China tem desenvolvido mecanismos de finanças sustentáveis para apoiar a descarbonização, incluindo fundos bilaterais e multilaterais que incentivam projetos de energia limpa e sustentável em países parceiros, com implicações na redução de lacunas de financiamento para transição de baixo carbono.

No Brasil, os investimentos e projetos em energias renováveis com envolvimento chinês tem se expandido nos últimos anos. Segundo o relatório do Conselho Empresarial Brasil China (CEBC), em 2023, de todos os projetos chineses no Brasil, 72% foram direcionados a energias verdes e setores relacionados – 16 pontos percentuais a mais do que em 2022 e a maior participação registrada desde o início da série histórica em 2007. [4]

Neste sentido, é imprescindível destacar o ambiente político e regulatório como catalisador dos investimentos e da própria cooperação entre Brasil e China nos setores de energia e sustentabilidade. A estabilidade institucional e o aprendizado mútuo têm contribuído para o aprimoramento das relações bilaterais, facilitando a atração de investimentos e o avanço de projetos conjuntos de energia e sustentabilidade.

A cooperação sino-brasileira no setor de energia tem se mostrado extensa e frutífera, com projetos conjuntos que remontam inclusive aos intercâmbios e colaborações que resultaram na transferência de tecnologias brasileiras para construção, operação e manutenção da hidrelétrica de Três Gargantas. Tais trocas permanecem ativas, com expertises e tecnologias chinesas atualmente aplicadas na usina hidrelétrica de Itaipu.

No segmento de sistemas de transmissão de longa distância, essenciais para superar os desafios da intermitência das fontes renováveis, há outra esfera em que emergem possibilidades de cooperação tecnológica em sustentabilidade. As linhas de transmissão de Belo Monte, a primeira de corrente contínua de ultra-alta tensão (cerca de 800 quilowatts) das Américas, utilizam tecnologia e expertise chinesa, que também deve ser aplicada em novos lotes de transmissão adjudicados pela State Grid Corporation of China, em recente leilão realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

Outros exemplos associam-se às possibilidades de tecnologias chinesas de reatores a seco, além de matérias e design para redução de perdas e uso mais eficiente de energia. O hidrogênio verde também se integra no centro desses esforços, com o Brasil possuindo amplo potencial para se tornar um dos líderes deste segmento. Recentemente, a Rede Brasileira de Certificação, Pesquisa e Inovação (RBCIP), em parceria com a Global Wind Energy (GWE), concluiu uma missão importante à China, que incluiu a conclusão bem-sucedida de um Teste de Aceitação de Fábrica (FAT) para um eletrolisador de última geração.

A sustentabilidade energética é apenas uma parte de uma agenda mais ampla que abrange mobilidade urbana, agricultura de baixo carbono, e as indústrias verdes em geral. Iniciativas como o programa China-Brazil Earth Resources Satellite (CBERS), cujas aplicações mais recentes sugerem potenciais usos para rastreabilidade da cadeia de carbono, constituem exemplos de como a sustentabilidade permeia de forma transversal a agenda de cooperação sino-brasileira. [5]

A este respeito, os governos brasileiro e chinês assinaram uma Declaração Conjunta de Intenções para o desenvolvimento do satélite CBERS-5, que terá o Brasil como área de foco, visando fornecer dados para o monitoramento de eventos climáticos extremos, como secas, tempestades e enchentes. Estes dados podem contribuir para diversos propósitos, como monitoramento do uso do solo, desmatamento, gestão florestal, mapeamento de áreas degradadas, recuperação de áreas, entre outros.

Programas como este exemplificam a colaboração Sino-Brasileira em áreas de sustentabilidade que vão além da energia, incluindo a melhoria da rastreabilidade de cadeias produtivas com foco na redução de emissões de carbono. No setor agrícola, estas iniciativas também refletem progressos obtidos em pesquisas, tecnologias e projetos desenvolvidos no Brasil, destacando o potencial inovador do país em processos de gradativa descarbonização de cadeias produtivas, com destaque ao projeto Soja Baixo Carbono, desenvolvido pela Embrapa.

A perspectiva do mercado verde na China, aliada às preocupações e interesses de ambos os países, incentiva o Brasil a se reposicionar como exportador de produtos sustentáveis em larga escala, especialmente a soja, responsável por 33% das exportações brasileiras para a China. A produção de soja e outros alimentos com baixa pegada de carbono, a partir de em sistemas de plantio direto ou em integração lavoura-pecuária-floresta, pode favorecer a articulação entre segurança alimentar e sustentabilidade, com soluções e metodologias científicas e baseadas na natureza. [6]

Considerações finais

Diante um panorama geral apresentado, fica demonstrado que a cooperação sino-brasileira não apenas reforça os laços bilaterais, mas também posiciona ambos os países como líderes na agenda ambiental e na transição energética global. A complementaridade das capacidades financeiras e tecnológicas chinesas, aliado aos vastos recursos naturais e expertise brasileiros, cria uma sinergia poderosa, capaz de enfrentar os desafios ambientais e climáticos do século XXI.

A colaboração estratégica em energia e sustentabilidade destaca o potencial das duas nações em moldar o futuro das práticas sustentáveis, não apenas em benefício próprio, mas também como um exemplo para o mundo. No entanto, o sucesso dessa parceria depende de um acompanhamento contínuo e de um compromisso renovado com a inovação e a sustentabilidade.

Referências

  1. Kim, W. Chan, e Renée Mauborgne. A Estratégia do Oceano Azul: Como criar novos mercados e tornar a concorrência irrelevante. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
  2. International Renewable Energy Agency (IRENA). Renewable Capacity Statistics 2024. Abu Dhabi: IRENA, 2024; International Energy Agency (IEA). World Energy Outlook 2023. Paris: IEA, 2023.
  3. Guerra, Adriana M. Nova política industrial para um novo mundo: aproveitando as oportunidades do Brasil na transição energética. Net Zero Industrial Policy Lab, fevereiro 2025.
  4. Cariello, Tulio. Investimentos chineses no Brasil: Novas tendências em energias verdes e parcerias sustentáveis. Rio de Janeiro: CEBC, 2024.
  5. Rosito, Tatiana. Bases para uma Estratégia de Longo Prazo do Brasil para a China. Rio de Janeiro: CEBC, 2020.
  6. Rosito, Tatiana. Bases para uma Estratégia de Longo Prazo.

Fotografia: thiago japyassu, Pexels

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Thiago Bernardo Lima
Thiago Lima

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