Esta é uma versão beta, pode conter bugs e não está completa. | This is a beta version, it may contain bugs and is not complete. | 这是一个测试版,可能包含错误并且不完整。

As placas tectônicas da geopolítica e da geoeconomia mundiais apresentam presentemente uma grande instabilidade, parecendo algumas vezes que procuram um equilíbrio e uma estabilidade futura e outras vezes um caminho para uma rutura e conflito aberto. Em termos geoeconómicos duas questões se formulam presentemente, a primeira é se estamos assistindo ao termo da globalização desenvolvida a partir do final dos anos 90 do Século XX e grandemente exponenciada com a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) em dezembro 2001, a segunda é se os Estados Unidos da América (EUA) conseguirão manter uma posição hegemônica na economia e política globais ou se a China tomará essa posição, ou ainda, se pelo contrário se caminhará para um mundo com vários centros de poder económico que irão concorrer mas também colaborar. Para os europeus uma questão premente é qual será a posição da União Europeia (UE) neste cenário.
Para os EUA e de acordo com o Council on Foreign Relations (CFR), um think tank do capitalismo monopolista americano, que trabalha junto da Wall Street a “China representa e continuará a ser o mais significativo concorrente dos EUA nas próximas décadas”, conforme o seu relatório Revising US Grand Strategy Toward China publicado em março de 2015 e da autoria de Robert D. Blackwill and Ashley J. Tellis.
Este relatório usa o termo “circunstâncias perigosas” para descrever as crescentes tensões entre as duas mais poderosas nações do mundo e, considera a probabilidade de uma rivalidade estratégica de longo-prazo entre Beijing e Washington. Também afirma que a China não tem sido o stakeholder responsável, que muitos nos Estados Unidos esperavam que fosse, pelo contrário, de acordo com os autores, têm adotado uma grande estratégia para si própria, aumentando o controlo do estado sobre a sociedade chinesa pacificando a periferia, cimentando o seu estatuto no sistema internacional com objetivo de substituir os EUA como o poder mais importante na Ásia. Tendo em consideração que o objetivo central dos EUA é preservar a sua hegemonia global, o relatório conclui que a principal tarefa que a grande estratégia dos EUA enfrenta hoje é adaptar-se ao desafio fundamental colocado pela ascensão contínua da China. O relatório considera um fracasso a política americana de integração da China tentando converter Beijing à ordem mundial internacional liberal e propõe substituir a “integração” pelo que eles chamam “equilíbrio”.
Não é o primeiro sonho dos EUA em relação à China, nem terá sido o primeiro fracasso, para converter Beijing à ordem mundial liderada pelos EUA. Já no início do Século XX os EUA tinham um sonho para a China, uma Nova China cristianizada e americanizada seria os EUA Best Friend na Ásia, para isso os EUA teriam que ajudar os chineses a terminarem com a ocupação militar japonesa da China. [1]
A partir de 1930 desenvolveu-se nos EUA um China Lobby com muitos aderentes no governo americano, nos medias, nas igrejas e famílias, em muitas regiões americanas. O Presidente Franklin Delano Roosevelt era um ativo membro desse lobby. Em 19 de fevereiro de 1943 ele afirmou numa conferência conjunta com Mme Chiang Kai-Shek que “O povo da China, há mais de um século, têm estado, em pensamento e em objetivos, mais próximo de nós, americanos, do que de quase qualquer outro povo no mundo — os mesmos grandes ideais. A China, em menos de meio século, tornou-se uma das grandes democracias do mundo”.
Nessa conferência o Presidente americano prometeu toda a ajuda à China para combater os japoneses. No livro The China Mirage, Bradley cita um discurso de John F. Kennedy, realizado na House of Representatives em fevereiro de 1949, em que ele afirmou que “estava claramente anunciado que a independência da China… era o principal objetivo da nossa política no Extremo Oriente” e “que pode ser dito que nós quase sem sabermos entramos em combate com o Japão para preservar a independência da China”. [2] Bradley refere que o China lobby americano estava convencido que ”sem a ameaça dos japoneses, o grande Chiang Kai-Shek ascenderia ao comando unificado a que se seguiria uma China cristã e democrática”, e refere que Winston Churchill chamou ao sonho americano de uma Nova China a “Grande Ilusão Americana”.
Na realidade o apoio americano foi muito importante para os chineses vencerem os japoneses na Guerra Sino-Japonesa na Segunda Guerra Mundial, mas os americanos não tinham previsto que logo após o término desta, em 1945, recomeçasse a guerra civil entre o Partidos Comunista da China liderado por Mao Zedong e o Kuomintang - Partido Nacionalista liderado por Chiang Kai-Shek, que terminou em 1949, com a vitória do Partido Comunista. Os EUA não reconheceram esta vitória e consideraram nas Nações Unidas que a República da China era liderada pelo Kuomintang que se tinha exilado em Taiwan. De 1949 a 1979 os EUA recusaram-se a ter relações estado-a-estado com a República Popular da China. Só em janeiro de 1972 o presidente estadunidense Richard Nixon retomou o diálogo de cooperação entre a China e os EUA. A normalização das relações diplomáticas entre a China e os EUA, aconteceu em janeiro 1979, e foram conduzidas pelo lado americano por Jimmy Carter, e pelo lado da China por Deng Xiaoping.
Esta mudança da política externa americana teve enorme influência para a abertura e o desenvolvimento da economia chinesa, que criou a partir dos anos 80, Zonas Econômicas Especiais, inicialmente em locais da China próximos de Hong Kong, Macau, Taiwan que tinham já uma economia fortemente internacionalizada e uma forte comunidade chinesa com muitos negócios com os EUA, os países europeus e o Japão. Foram criadas condições para que empresas desses territórios investissem na China, levando consigo investidores desses países que assim poderiam beneficiar das facilidades oferecidas por essas zonas e do conhecimento sobre a China dessa comunidade.
Nos anos 90 e no início do milênio, mais de 60% do comércio externo da China era feito por empresas com capital estrangeiro. Era do interesse desses países e também da China que esse comércio e investimento fosse enquadrado pelas normas internacionais da Organização Mundial de Comércio (OMC), quer os EUA, quer a então Comunidade Econômica Europeia muito ajudaram a China nesse processo.
E o sonho americano sobre a China voltou.
Bill Clinton defendia num discurso em 2000 a adesão da China à OMC formulando as suas expectativas de que “Ao aderir à OMC, a China não só simplesmente concorda em importar mais dos nossos produtos, está também a concordar em importar um dos mais importantes valores da democracia: a liberdade económica. Quando os indivíduos têm o poder… para realizar os seus sonhos, eles exigem uma maior voz”. Este sonho dos EUA era partilhado pelos países da União Europeia, que estavam muito entusiasmados com a entrada da China na OMC, porque olhavam para o enorme mercado chinês que iria comprar os seus produtos, porque tinha muito para comprar e aprender em todos os campos, eles pensaram que podiam moldar o processo e os standards de desenvolvimento da China à sua imagem e semelhança e que aspiravam que o desenvolvimento económico, transformaria a China num país liberal e democrático.
Foi mais um erro de perceção dos americanos, de que os europeus também comungaram, porque não foi isso que aconteceu.
Os objetivos estratégicos da China foram bem conseguidos. Em 2004 a sua economia ultrapassou a alemã e em 2010 a japonesa. De acordo com o World Bank Group nos primeiros 38 anos, a Política de Reforma e Abertura Econômica da China, retirou da pobreza absoluta 700 milhões de pessoas, ao mesmo tempo que ajudou a crescer as economias dos países do Sul Global, que lhe forneciam matérias-primas, energia e produtos semiacabados e com quem estabeleceu em muitos casos alianças diplomáticas. [3] Esses países estão agora integrados em blocos económicos como os BRICS, a Organização Cooperação de Shanghai (SCO), a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e a Parceria Econômica Regional Abrangente, (RCEP). A própria BRI pode ser mencionada como importante iniciativa para o Sul Global.
Se considerarmos os objetivos dos EUA e UE eles só parcialmente foram atingidos. Digamos que em termos microeconómicos, existiram efeitos muito positivos. Ao integrar a China nas suas Cadeias de Valor Global muitas multinacionais americanas e europeias tornaram-se altamente competitivas e conseguiram lucros enormes, ao mesmo tempo que os consumidores desses países beneficiaram dos baixos custos de produção e venda dos produtos feitos na China, assim aumentando o seu poder de compra. Já em termos macroeconómicos os efeitos foram adversos, os EUA e a UE assistiram a um processo de deslocalização para a China das suas empresas, o que provocou desemprego, estagnação ou mesmo deflação dos salários industriais, balanças comerciais muito negativas com a China, o que se refletiu nas taxas de câmbio das suas moedas e nas suas reservas de divisas. Também em termos políticos os seus objetivos de transformar a China num país com uma democracia tipo ocidental falharam completamente, porque o extraordinário aumento das condições e qualidade de vida dos cidadãos chineses serviram para que estes apoiem as políticas do Partido Comunista da China, e podem até servir de modelo político e económico a países do Sul Global.
Em 2018, Stewart Paterson concluiu:
À medida que a China cresceu e passou a dominar a indústria manufatureira global, o seu poder e influência cresceram como produtor, consumidor e investidor. Esse poder económico está se a traduzir em poder político, e o Ocidente agora tem um rival global que é politicamente antagónico dos valores liberais. [4]
Estas conclusões justificam a estratégia dos EUA em relação à China, centrada em equilibrar ou melhor tentar controlar a ascensão do poder chinês, com controlo, negociações e compromissos, vitalizando a economia americana nomeadamente através da reindustrialização e simultaneamente mitigando o crescimento da China dificultando-o com barreiras comerciais e tecnológicas sem prejudicar a economia americana, é um equilíbrio difícil de conseguir, como estamos recentemente a assistir.
Fotografia: Pexels
Leia o número completo aqui
本文是项目《Sinóptica 提纲》杂志的一部分。了解更多关于本项目和其他项目的信息在这里。
本文所表达的观点不代表观中国的立场,仅代表作者个人观点。
订阅每两周一次的通讯,了解所有关于思考和分析当今中国的人的一切。