Ambition, Innovation and International Cooperation

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China at the forefront of the energy transition

Sinóptica 提纲 Magazine

JUNE 24, 2025
João Simões

No artigo “The Troubled Energy Transition, How to Find a Pragmatic Path Forward”, publicado pela Foreign Affairs na sua edição de março-abril de 2025, os autores Daniel Yergin, Peter Orszag e Atul Arya desafiam aqueles que viam as transições energéticas como um processo simples e linear. A transição de um sistema energético baseado essencialmente em petróleo, gás e carvão para outro centrado em energias renováveis, hidrogénio e biocombustíveis, será muito mais difícil, dispendiosa e complexa do que inicialmente se esperava. Em 2024, a produção mundial de energia eólica e solar atingiu níveis sem precedentes, representando 15% da produção de eletricidade global — um aumento extraordinário a partir de praticamente zero há 15 anos. Este progresso foi ainda impulsionado por uma queda significativa de 90% nos custos dos painéis solares, evidenciando avanços notáveis na transição para fontes de energia renováveis. Contudo, apesar destes progressos, o ano de 2024 registou também consumos recorde de petróleo e carvão. A longo prazo, a dependência dos hidrocarbonetos pouco mudou, com a sua participação no mix energético mundial a cair apenas modestamente de 85% em 1990 para cerca de 80% atualmente.

Desde o início do século XXI, as preocupações com as alterações climáticas elevaram as expectativas de uma rápida substituição dos combustíveis fósseis. Estas expectativas foram reforçadas pela redução dos custos e pelo rápido desenvolvimento tecnológico das energias renováveis. A realidade, no entanto, sugere que o processo será tudo menos simples. A este cenário soma-se uma sucessão de eventos globais — a pandemia de COVID-19, a invasão da Ucrânia pela Rússia, a política America First de Donald Trump, guerras comerciais — que vieram contribuir para uma vaga de desglobalização, acompanhada pela fragmentação e polarização da ordem mundial.

Neste contexto de incerteza global, a cooperação internacional é cada vez mais importante para enfrentar as questões energéticas e climáticas. Como afirmam Robert Keohane e David Victor: [1]

A cooperação internacional é fundamental para uma resposta global eficaz aos desafios relacionados com a energia e as alterações climáticas. No entanto, uma coordenação internacional genuína é, por natureza, difícil de organizar. Na ausência de um governo mundial, uma colaboração eficaz requer o envolvimento de Estados, instituições multilaterais, bem como empresas e atores não estatais que desempenham papéis significativos em cada área temática.

Organizações como a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), fundada em Bona em 26 de janeiro de 2009, têm estado na linha da frente na defesa da cooperação internacional para o desenvolvimento das energias renováveis. No seu relatório intitulado “A New World: The Geopolitics of the Energy Transformation”, a IRENA argumenta que as transições energéticas têm o potencial de ser um dos principais elementos que irão moldar a geopolítica no século XXI. O rápido avanço das renováveis terá consequências geopolíticas profundas, transformando a distribuição global de poder, as relações entre Estados, o risco de conflito, bem como os fatores sociais, económicos e ambientais que promovem a instabilidade geopolítica. [2] Mais recentemente, no relatório “Geopolitics of the energy transition: Energy security”, a IRENA enfatiza a necessidade de evolução das matrizes de segurança energética e destaca o papel crítico da cooperação internacional:

Os sistemas de segurança energética precisam de evoluir para se tornarem ferramentas eficazes que promovam o investimento, uma transição justa e a cooperação internacional. Frequentemente, as questões de segurança energética emergem em momentos de crise, concentrando-se em soluções de curto prazo. Contudo, dada a natureza sistémica e estrutural da transição energética em curso, estes sistemas devem ser concebidos com uma visão de longo prazo, integrando dimensões socioeconómicas mais amplas e aspetos globais. (…) A colaboração entre países é indispensável para aproveitar oportunidades nos domínios do investimento energético, na tecnologia e inovação, e na governação. [3]

Per Högselius oferece uma perspetiva alternativa sobre energia e geopolítica, ao desviar o foco do conflito para a cooperação. Este autor introduz o conceito de “transnacionalismo energético”, que se refere aos esforços de diversos atores para mobilizar a energia como uma ferramenta de reforço da estabilidade política internacional, prevenção de guerras e promoção da cooperação internacional. Esta visão desafia a narrativa predominante de que a energia e a geopolítica são essencialmente arenas de competição e conflito pela supremacia global. Em vez disso, Högselius revisita o conceito de “transnacionalismo energético”, inspirando-se numa tradição filosófica associada ao filósofo francês Claude-Henri de Saint-Simon que, por ocasião do Congresso de Viena em 1814–1815, apontou as infraestruturas transnacionais como um meio de promover a paz e a harmonia.

Ao enquadrar a energia como uma força de união em vez de divisão, esta perspetiva alinha-se com os esforços mais amplos para usar a energia como um catalisador de estabilidade internacional e cooperação. [4]

Na China, uma abordagem ambiciosa à transição energética ilustra o potencial para uma ação coordenada à escala nacional. Com o compromisso de atingir o pico de emissões de carbono antes de 2030 e alcançar a neutralidade carbónica antes de 2060, a China tem vindo a construir novas indústrias e a desenvolver uma infraestrutura energética de nova geração a uma escala e velocidade inigualáveis no mundo. Este compromisso — apoiado por investimentos significativos — incentivou uma nova geração de empresas a financiar investigação e a desenvolver soluções inovadoras e eficientes de energias renováveis. Os resultados estão a fazer-se sentir em todo o mundo. Em 2023, a China investiu mais do que o dobro de qualquer outro país na sua transição energética. Este rápido crescimento na produção de tecnologia verde ajudou a reduzir os custos das soluções de energia sustentável globalmente.

O desempenho da China na transição energética, impulsionado por objetivos claros e políticas consistentes, está a servir de exemplo para outros países, de acordo com Roberto Bocca, diretor do Centro de Energia e Materiais do Fórum Económico Mundial (WEF). Bocca destaca o Índice de Transição Energética do Fórum Económico Mundial como evidência deste sucesso. Em 2020, a China ocupava o 78.º lugar no ranking da transição energética, mas em 2024 subiu para o 17.º lugar — uma melhoria notável que, segundo Bocca, resulta dos planos bem definidos e das políticas coerentes implementadas pelo país. O diretor do WEF destacou a importância da cooperação internacional, especialmente no contexto do mundo atual.

O Livro Branco “China's Energy Transition” reforça esta narrativa, destacando o papel ativo da China na transição energética global ao avançar na sua própria transformação energética. O documento descreve como o país tem promovido o desenvolvimento sustentável, transformando os seus modelos económicos e participando numa ampla cooperação energética a nível global. Através destes esforços, a China tem impulsionado o desenvolvimento verde global, tornando-se uma força motriz para a transição energética mundial. Desde 2013, o país foi responsável por mais de 40% das adições anuais à capacidade de energia renovável no mundo. Em 2023, a capacidade instalada de energia renovável na China representou mais da metade do total global. A China também promoveu a cooperação em energia verde no âmbito da Iniciativa Belt and Road, avançando parcerias com países participantes. A China criou plataformas para cooperação energética de alto nível, incluindo a Parceria Energética da Iniciativa Belt and Road, que atualmente inclui 33 países membros. No âmbito desta parceria, foram estabelecidas seis grandes plataformas regionais de cooperação energética, como a plataforma China-ASEAN e a plataforma China-Liga dos Estados Árabes, entre outras. Além disso, foram criados mecanismos para reuniões regulares entre os ministros da energia dos estados-membros da Organização de Cooperação de Shanghai. Ao focar-se na segurança energética, na transição energética, no acesso à energia e no desenvolvimento sustentável, a China está a contribuir com as suas soluções para a reforma da governação energética global.

A urgência das transições energéticas é inquestionável face aos desafios climáticos, às tensões geopolíticas e ao aumento previsível do consumo global de energia. No entanto, a transição energética global tem-se revelado um processo muito mais complexo e demorado do que inicialmente previsto. Apesar das adversidades, a China mantém-se firme nos seus objetivos, demonstrando que metas claras e políticas consistentes podem catalisar mudanças significativas. Ao promover a cooperação internacional, a China oferece ao mundo uma visão de esperança e um caminho essencial para o futuro — uma estratégia que sublinha a capacidade dos atores globais de trabalharem em conjunto, assegurando benefícios mútuos e assumindo uma responsabilidade partilhada para alcançar um futuro sustentável.

Referências

  1. Keohane, Robert O., e David G. Victor. “The Transnational Politics of Energy.” Daedalus 142, no. 1 (2013): 97–109.
  2. Global Commission on the Geopolitics of Energy Transformation (Secretariat), e Thijs Van de Graaf. A New World: The Geopolitics of the Energy Transformation. Abu Dhabi: IRENA, 2019.
  3. Press, Elizabeth, Yana Popkostova, Thijs Van de Graaf, Ellipse Rath e Gerald Tagoe. Geopolitics of the Energy Transition: Energy Security. Abu Dhabi: IRENA, 2024.
  4. Högselius, Per. Energy and Geopolitics. London: Routledge, 2019, 155–156.

Fotografia: Carolina Souza

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Edited by

Carlos Renato Ungaretti
Carlos Ungaretti

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