Esta é uma versão beta, pode conter bugs e não está completa. | This is a beta version, it may contain bugs and is not complete. | 这是一个测试版,可能包含错误并且不完整。

Macau, Redes, Diálogos e Afetos

Macau, Redes, Diálogos e Afetos

A Consolidação da Comunidade Lusófona de Estudos da China

《Sinóptica 提纲》杂志

2025年12月13日
Pedro Steenhagen

Macau É Seio

Em uma das primeiras composições poéticas da obra Poemografia de Macau, António Duarte Mil-Homens transmite com precisão, em três simples versos, os sentimentos de quem viveu um longo tempo na região:

Macau é seio Macau é ventre Macau é mudança [1]

Terra historicamente acolhedora e símbolo da conexão entre Oriente e Ocidente, e, particularmente, entre a China e os países de língua portuguesa (PLPs), a atual Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) tem passado por mudanças significativas desde a sua retrocessão, em 20 de dezembro de 1999.

Altamente conhecida pela herança cultural portuguesa e pelo que oferece nos campos do turismo e do lazer, Macau demonstrou intenso crescimento econômico, importantes reformas políticas e valiosos dinamismos socioculturais nos últimos 26 anos. Com sua diversificação econômica e a crescente integração com a Área da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau em curso, a RAEM tem dobrado a aposta para consolidar-se não só como uma liderança econômico-financeira, educacional, cultural e tecnológica, mas também como um dos maiores pontos de referência no relacionamento entre a China e os PLPs.

Figurando como o melhor exemplo de sucesso do princípio “um país, dois sistemas”, Macau tem estado cada vez mais envolvida nas estratégias nacionais e internacionais da China, tais como a Iniciativa Cinturão e Rota, a Zona de Cooperação Aprofundada Guangdong-Macau em Hengqin e a própria Área da Grande Baía. Além disso, com apoio do governo central, a RAEM tem investido no seu potencial como “um centro, uma plataforma e uma base”, criando ou fortalecendo instituições como o Fórum para a Cooperação Econômica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, a Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, a Plataforma Sino-Lusófona de Serviços Financeiros e o Centro de Cooperação e Intercâmbio de Ciência e Tecnologia entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Macau como Polo Educacional na Lusofonia

Em meio a tantas iniciativas de sucesso, chamam especial atenção os lemas governativos “Promover a Prosperidade de Macau através da Educação” e “Construir Macau através da Formação de Talentos”. Em agosto de 2025, o recém-empossado Chefe do Executivo da RAEM, Sam Hou Fai — que, por sinal, teve formação acadêmica em Portugal e fala português fluentemente — em reunião com o Ministro da Educação da China, Huai Jinpeng, afirmou que Macau está empenhada em impulsionar a cooperação entre indústria, universidade e investigação, alargar as redes de cooperação internacional no ensino superior, desenvolver os assuntos na área de educação e criar de forma faseada a Cidade Universitária de Educação Internacional de Macau e Hengqin.

Por sua vez, a Direção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) revelou que o Governo da RAEM solicitou para as autoridades de Hengqin reservarem terrenos suficientes perto do campus da Universidade de Macau (UM), de forma que novas instalações, inclusive de outras instituições de ensino superior de Macau, possam ser construídas. Tais iniciativas conectam-se diretamente com as “Linhas Gerais do Planejamento para a Construção de uma Nação Forte na Educação (2024-2035)”, publicadas pelo Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e pelo Conselho de Estado da China.

De fato, a Secretária para os Assuntos Sociais e Culturais de Macau, O Lam, ao citar o Presidente Xi Jinping para indicar que “a educação é a base num plano centenário, e os professores são a raiz da educação”, garantiu que a RAEM continua a aumentar o investimento em educação e a melhorar a qualidade do ensino, com mais recursos e mais igualdade. A China, com sua visão de longo prazo, tem total consciência — como já restou demonstrado ao longo de sua história, tanto antiga quanto recente — de que propiciar educação de qualidade, fortalecer escolas e universidades, investir em pesquisa e valorizar professores são passos fundamentais para a construção de uma sociedade harmoniosa, rejuvenescida e capaz de liderar pelo exemplo nas mais diversas áreas. São estratégias importantes de serem observadas pelos PLPs.

Referidos esforços no campo da educação não ficam apenas na retórica. Em relativamente poucas décadas, a nação asiática tornou-se uma verdadeira potência na área. A seguir, será utilizado para análise o World University Rankings 2026 da Times Higher Education (2025), que, juntamente com o QS Rankings, é considerado uma das principais referências na avaliação internacional de universidades. A China continental possui cinco delas no top 50 do mundo: Universidade Tsinghua (12), Universidade de Beijing (13), Universidade Fudan (36), Universidade de Zhejiang (39) e Universidade Shanghai Jiaotong (40). Ademais, referido ranking mostra um total de 97 resultados para a China continental.

Comparativamente, o Brasil, maior país de língua portuguesa do globo, possui um total de 59 resultados, e suas cinco melhores universidades são: Universidade de São Paulo (201-250), Universidade Estadual de Campinas (351-400), Universidade Federal do Rio de Janeiro (601-800), Universidade Estadual Paulista (601-800) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (601-800). Portugal retorna 16 resultados no total, e suas cinco melhores universidades são: Universidade de Coimbra (401-500), Universidade de Lisboa (401-500), Universidade do Porto (401-500), Universidade Nova de Lisboa (501-600) e ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa (601-800) — aqui, vale menção à Universidade de Aveiro (601-800), que vem logo em seguida e oferece um Mestrado em Estudos Chineses. Moçambique possui apenas uma presença no ranking: a Universidade Eduardo Mondlane (1201-1500). Nenhum outro país de língua portuguesa possui universidades ranqueadas.

Por sua vez, Macau, pequena região administrativa especial da China, possui três universidades ranqueadas: Universidade de Macau (145), Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (251-300) e Universidade da Cidade de Macau (601-800). De maneira muito interessante, as universidades da RAEM têm experimentado um crescimento estrondoso; por exemplo, a Universidade de Macau teve um salto de mais de 250 posições no ranking nos últimos 10 anos. Com isso, a RAEM assume um papel de liderança cada vez mais relevante na área da educação e da pesquisa, tendo a melhor universidade do mundo lusófono em seu território, experimentando uma intensa expansão do setor de educação e pesquisa e servindo como eixo fundamental para o intercâmbio de pessoas e a promoção de conhecimento.

Macau como Articuladora de Redes Acadêmicas Sino-Lusófonas

Cidade irmã de Brasília, São Paulo, Lisboa, Porto e Coimbra, hodiernamente, Macau tem quatro instituições públicas e seis privadas para o ensino superior. Além das três mencionadas acima, há: Universidade de São José; Universidade Politécnica de Macau; Universidade de Turismo de Macau; Instituto de Gestão de Macau; Escola de Enfermagem Kiang Wu de Macau; Academia das Forças de Segurança Pública; e Colégio Millenium de Macau. Adicionalmente, a RAEM conta com várias organizações voltadas para pesquisa e educação, como o Instituto de Estudos Europeus de Macau, o Instituto Internacional de Macau e o Instituto de Macau da Universidade das Nações Unidas.

A Universidade de Macau possui o maior Departamento de Português da Ásia, que tem, ainda, dois centros de pesquisa: O Centro de Investigação para Estudos Luso-Asiáticos e o Centro de Ensino e Formação Bilíngue Chinês-Português. É notável também seu crescente movimento de internacionalização, tendo estabelecido programas de intercâmbio de estudantes com mais de 10 universidades brasileiras, fortalecido a colaboração em ensino e pesquisa via alianças internacionais, como a Associação das Universidades de Língua Portuguesa, e estabelecido o Centro de Estudos Judiciários e Jurídicos da China e dos Países de Língua Oficial Portuguesa.

Enquanto isso, a Universidade da Cidade de Macau, por meio de seu Instituto para Pesquisa sobre Países de Língua Portuguesa, oferece programas únicos de Mestrado e Doutorado em Estudos de Países de Língua Portuguesa. Além disso, realiza parcerias com o ISCTE-IUL e com o Centro de Pesquisa “Um Cinturão, Uma Rota” de Macau, bem como promove inúmeros eventos, encontros e visitas voltados para PLPs, fincando sua posição na vanguarda de programas e de iniciativas acadêmicas que vão além de questões puramente linguísticas e culturais.

Nota-se, ainda, os acordos que a Universidade de São José firmou, por exemplo, com a Universidade Federal do Ceará e a Universidade Católica Portuguesa, não só para aproximação no âmbito bilateral, mas também para promover projetos conjuntos. Outro exemplo seria a recente criação do Laboratório Conjunto em Inteligência Artificial para a Longevidade Saudável entre a Universidade de Coimbra e a Universidade Politécnica de Macau, que possuem, ainda, diversos acordos de cooperação e programas de formação conjunta e intercâmbios acadêmicos.

De maneira similar, outras organizações têm implementado iniciativas que fortalecem o papel de Macau como importante ponte entre a China e os PLPs. A Direção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico do Governo da RAEM e o Centro de Incubação de Negócios para os Jovens de Macau realizam o Concurso de Inovação e Empreendedorismo de Macau para as Empresas de Tecnologia do Brasil e de Portugal desde 2021. O Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) em Lisboa, presidido pela Prof. Carmen Amado Mendes (Universidade de Coimbra), e as Casas de Macau ao redor do mundo — com destaque para aquelas sediadas nos países lusófonos, nomeadamente, no Rio de Janeiro, em São Paulo e na capital portuguesa — juntamente com iniciativas internacionais como o Encontro de Comunidades Macaenses, contribuem não só para a vitalidade dos intercâmbios intelectuais, mas também para o cultivo da memória e dos laços afetivos entre Macau, a diáspora, os descendentes e as comunidades lusófonas. Finalmente, associações como a Associação de Estudos Brasileiros em Macau e a Associação Industrial e Comercial de Macau oferecem substância, de maneira complementar às universidades e aos institutos de pesquisa, para o estreitamento de relações, o desenvolvimento de redes e a geração de diálogos cada vez mais frutíferos entre as partes envolvidas.

Nesta Macau Me Endoido

Retomando algumas palavras de Mil-Homens, Nesta Macau me endoido Neste retiro me mereço Neste covil me entesoiro E sem querer me esqueço [2]

Macau é lugar de convergência de culturas, de se deparar com um mundo diverso, de renovação e de se reconhecer no outro. Inevitavelmente, acaba sendo também inebriante, um ambiente de afetos e de saudade de que nem se sabia ter antes de conhecê-lo.

A RAEM ainda tem um longo caminho para atingir todas as suas metas, porém seu enorme potencial como protagonista regional e global em áreas como tecnologia e inovação, turismo sustentável, indústria criativa, finanças e, particularmente, ensino, pesquisa e intercâmbio de pessoas já é bastante claro. O componente da Lusofonia e da conexão única com os PLPs acrescenta ainda mais dinamismo a suas ambições e a uma trajetória que já pode ser considerada incrivelmente bem-sucedida desde a sua retrocessão.

Nas palavras de Xi, durante a agenda oficial para celebrar o 25° aniversário da RAEM em dezembro de 2024, “cada visita a este belo lugar tem sido muito agradável para mim. Macau é uma pérola na palma da mão da pátria”, defendendo que o território tem um forte impulso para o desenvolvimento e manifestando a convicção de que terá um futuro ainda mais brilhante. E é nesse encontro entre iniciativas guiadas pelo pragmatismo dos interesses reais e projetos fortalecidos pelo ímpeto invocado pelas emoções humanas mais subjetivas que Macau se segue firmando como ator essencial e epicentro inestimável do processo de consolidação da comunidade lusófona de estudos da China.

Referências

  1. António Duarte Mil-Homens, Poemografia de Macau (Macau: Instituto Cultural do Governo da Região Administrativa Especial de Macau, 2019).
  2. Mil-Homens, Poemografia de Macau.

Fotografia: Pexels

Leia o número completo aqui

本文是项目《Sinóptica 提纲》杂志的一部分。了解更多关于本项目和其他项目的信息在这里

编辑

Pedro Martins Zuffo
Pedro Zuffo

本文所表达的观点不代表观中国的立场,仅代表作者个人观点。

观中国通讯

订阅每两周一次的通讯,了解所有关于思考和分析当今中国的人的一切。

© 2025 Observa China 观中国. 版权所有. 隐私政策 & 使用条款.